[…] Infelizmente, as políticas públicas estão sempre na direção da “formação” e “capacitação” dos professores, nunca na direção da apropriação e consolidação da cultura digital. [Ana Beatriz, no Educação à Distância]
Com esta frase a Ana Beatriz encerra o seu texto, que fala da palestra do MEC na WCCE 2009 e resume muito bem o que é um dos grandes nós da questão da inserção das tecnologias da informação e da comunicação no trabalho do professor.
Lembrei que uma das minhas recomendações (p. 195/196 ) na dissertação, mestrado com defesa em 2004, foi a formação a partir da imersão na rede, justamente para garantir uma apropriação que dificilmente os treinamentos e capacitações possibilitavam.
Inserir as TIC no trabalho e na prática educativa não se trata de aprender a usar ferramentas e, sim, de falar uma nova linguagem, de incorporar práticas sociais. O requisito básico de uma formação é a de abrir o caminho para isso. Isso demanda tempo e reflexão e recursos, sobretudo recursos humanos.
Me preocupa quando leio que
“Os professores da rede pública têm a sua disposição vários cursos a distância para seu aperfeiçoamento continuado, além de extensão e especialização. Até final de 2010 teremos mais de 500 mil professores que passaram por estes cursos, isso sem contar com a UAB, a missão do MEC é não só produzir e promover, mas propiciar aos professores a oportunidade de escolherem o curso que desejem fazer.” [no Web Rádio, da palestra do MEC na WCCE]
pois, não posso deixar de calcular a alocação de recursos tecnológicos, de espaço (polos, NTEs), a quantidade de professores que está sendo necessário contratar (concursar!) para efetuar esta formação gigante. Isso dá aproximadamente 12.500 turmas, necessitando, no mínimo, 12.500 professores e/ou 25.000 tutores, … (mesmo este processo já estando em curso, os números são grandes)
Quando o MEC está intimando as universidades e centros universitários a cumprirem em até 90 dias a lei que diz que as instituições de ensino superior devem ter um terço do corpo docente com dedicação integral, na certa espera que esta contratação em massa que deverá ocorrer possa cumprir esta mesma lei.
Assim, quando não vejo movimentação no sentido de realização de concursos e nomeação de docentes, fico pensando como se dará esta capacitação e se esta será uma real apropriação de uma nova linguagem ou apenas mais um treinamento no uso de ferramentas.
No segundo caso, o resultado já se sabe qual é: professores resistentes, laboratórios fechados (ver p. 136 da minha dissertação). Pois, não será a “criação, no homem, do correspondente sentido, graças ao qual ele pode compreender o sentido da coisa.” (KOSÍK, 1976, p. 29)
Imersão na rede é formar e viver a rede, ser parte dos elos cooperativos que podem surgir entre professores e, este, é um movimento que passa pela construção de cursos de formação que privilegiem a formação da rede. Cursos que vão exigir muito mais do que ambientes virtuais e tarefas lineares e, por isso, vão exigir muito daqueles que vão, juntamente com a tecnologia, mediar esta aprendizagem.
Aí que pergunto se as nossas instituições formadoras estão prontas para fazer e manter este mergulho na rede junto com estes 500.000 professores.
KOSÍK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. 230 p.