Em muitos paÃses hoje é o dia de agradecer. O que cada um vai agradecer e em que medida é uma decisão individual na maior parte das vezes. E o que se tem a agradecer é, muitas vezes, muito relativo. O que parece pouco para uns, é imenso para outros.
A foto aà do lado mostra um monumento cercado de andaimes, na certa sendo restaurado. O olho engana mesmo ao vivo e o que se vê aà plantado no meio do parque é uma fotografia em tamanho natural que esconde o que está sendo restaurado da vista de quem passa. Mágica? Ideologia? O claro-escuro da realidade que se mostra mais naquilo que esconde.
É assim, também, com o que temos a agradecer. Nem sempre é óbvio, visÃvel, belo e bom. E ver além da realidade que se mostra é um exercÃcio difÃcil, dolorido até. Não é fácil enxergar o que a maioria não vê. A história criada, a fotografia que esconde a ruÃna, seduzem e acalmam, enquanto o real fere.
Se hoje eu tivesse que escolher algo pelo qual agradecer, escolheria agradecer pela vida da pessoa que me ensinou a ver além da aparência. Que me mostrou que as coisas contém em si a sua própria negação. E que isso, não aponta lados opostos, verdades ou mentiras, bonitos e feios. Compreender este aspecto duplo de tudo é reconhecer o movimento, a complexidade.
Eu hoje agradeceria dialéticamente a vida do professor que esteve comigo enquanto e aprendia estas coisas, marxista duro de coração mole. Alguém que até o fim deu sentido ao que se chama prática social, exemplo vivo do conceito que poucos conseguem conhecer em teoria e prática. Vou sentir saudade, professor Triviños, e nunca mais vou conseguir levantar uma taça de vinho sem pensar em ti.
“Yo soy el cóndor, vuelo
sobre ti que caminas
y de pronto en un ruedo
de viento, pluma, garras,
te assalto y te levanto
en un ciclón sibilante
de huracanado frÃo.”
(Los Versos del Capitan, Pablo Neruda)